
Minha cólica renal ainda me matava.
Comecei a chamar por senha todas as reflexões do banco de reflexões.
Quis escrever, mas levantar faria Guim acordar e eu sei o quanto é importante para ela uma boa noite de sono.
Resolvi tentar dormir para não sentir mais dor e nem pensar no estado de Grela.
Vim correndo para o trabalho.
Desejei que o atendente da lanchonete onde compro meu café-da-manhã fosse mais ágil, mais habilidoso para que os pensamentos não fugissem.
Quero falar sobre Henry, June e Anaïs.
Eles tem me tirado do mundo real.
Se não quero pensar no estado de Grela, preciso de Blond, Dior, Guim, Tur, Henry, June e Anaïs.
Por falar em Grela, ontem Dior me contou que ela abriu os olhos e fechou rapidamente.
Sim, Dior tem sido nosso porta-voz. Não queremos causar mais preocupações ao pais dela e convocamos um de nós para fazer as ligações e repassá-las.
Dior me contou também que Grela apertou a mão da médica quando esta pediu.
Chorei, chorei de emoção. Minha felicidade me inundou, transbordou...
Tenho pensado mais em tudo.
Barea me enviou um e-mail ontem com dois textos de sua autoria.
Não sei o que vem acontecendo comigo, mas ando muito sentimental.
Fiquei pasma com o que li.
Já disse a Barea que amo ouvir suas histórias.
Barea teve poucas experiências, mas todas elas foram lindas, com um enredo maravilhoso.
Respondi o e-mail com minhas considerações abaixo. Uma delas:
"Quisera eu não ter me envolvido com tanta gente. A experiência mata a imaginação".
Anaïs fala por mim, é como se ela escrevesse tudo o que eu sempre quis descrever sobre meus grandes momentos com pessoas que me levaram a loucura, que me tiraram os pés do chão, que me deram pequenos e intensos momentos de prazer que valeriam por uma vida inteira.
Anaïs ama Henry, mas ama June também.
Henry consegue ser o único homem que a desequilibra e em June ela encontra todo o conjunto do que ela imaginara ser a mulher mais bela de sua própria criação.
O tempo voa ao lado de Anaïs, Henry e June. Eles me fascinam.
O amor é tão real, tão verdadeiro, tão mágico.
Me lembro de quando tinha 13 anos de idade e ainda não tinha encontrado nenhuma melhor amiga. Eu desejava isso com toda a força do meu ser.
Passados 2 anos, a vida me trouxe Laeni.
Hoje faz 8 que ela entrou em minha vida para me mostrar que é grandiosamente amiga. Sem cobrança, sem esperar por nada.
E eu que pensava que nunca encontraria tal pessoa, encontrei.
É isso que Henry, June e Anaïs me despertam. A vontade de viver o que eles vivem.
Algo intenso, algo que eu perdi e nunca mais senti por alguém.
Pensei que a culpa fosse da maldita "experiência". Pensei que ela tivesse matado todos os seres para mim.
Que a "experiência" tivesse me mostrado que todos são desequilibrados e confusos.
Não ter tido tantas parceiras talvez não me fizesse desanimar tanto. Talvez não me fizesse perder o encanto.
Talvez eu não fosse tão desconfiada, tão fria, tão pé no chão como sou hoje.
Pensam que não quero me soltar e sentir meu corpo flutuar assim como senti acontecer quando eu e Be demos nosso primeiro beijo?
Pensam que não quero ter aquela sensação de querer sonhar com aquele beijo pelo resto da vida de volta?
Henry e Anaïs vivem agora um momento tão único que me sinto viva de novo.
Os textos de Barea me fizeram ver que ainda existem pessoas que querem viver o que eu também quero viver.
Percebi que as coisas não se perderam e que aos poucos a vida vem me trazendo tudo de volta.
Não foi culpa da experiência. Não, não foi culpa dela.
Eu não preciso apagar ou esquecer nada, apenas enriquecer com ela....
Obrigada Barea! Essa é em sua homenagem.
Pelo livro, pelos bons papos na sua casa, pelas músicas e pelas palavras....